O perfil que vem à mente ainda é o mesmo: homem, meia idade, de família rural. Mas o trabalhador do campo - como conhecemos -, confirmado pelos dados do Censo Agro 2017, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), está mudando. Em 2006, 39% dos entrevistados não sabiam ler e escrever, já na última pesquisa, realizada em 2017, esse número caiu para menos da metade: 15, 44%.
O comparativo desta evolução na escolaridade do trabalhador rural não para por aí – em 2006, 43% não haviam concluído o ensino fundamental. Na pesquisa mais recente, o número caiu para 23,74%. Atualmente, mais de 5% dos trabalhadores possuem nível superior. Nestes onze anos, não somente o manejo mudou, mas também quem o faz. Este, talvez, seja o retrato do novo trabalhador rural, que diante de um agronegócio em constante transformação, busca, cada vez mais, se qualificar.
O Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar) é um dos retratos desta atualização no perfil do trabalhador. A instituição que atua há mais de 27 anos na formação profissional rural e promoção social já formou mais de 76 mil trabalhadores e produtores rurais em todo País. Nos últimos anos, no entanto, as grades curriculares passaram por mudanças e a tecnologia se tornou parte fundamental do conteúdo.
Outra mudança significativa é adoção do sistema de ensino à distância. Um exemplo citado pela própria entidade, em entrevista ao nosso portal, foi o Programa de capacitação em Agricultura de Precisão. O curso trabalha a alta produtividade, conectividade, agricultura digital, entre outros conteúdos pertinentes ao agro 4.0.
Demanda. Tudo isso é reflexo de uma nova perspectiva da produção, o avanço tecnológico exige capacitação e o apelo pela mão de obra qualificada provém de ambas as partes - empregador e trabalhador rural, como colocam os representantes do Senar, em entrevista: “O Senar em alinhamento constante com os Sindicatos, associações e cooperativas executa ações de formação profissional, promoção social e assistência técnica e gerencial de acordo com as demandas das instituições parceiras, atendendo sempre as necessidades de produtores (empregadores e/ou agricultores familiares) e trabalhadores rurais”.
“A cada ano são novas máquinas, novos equipamentos e novos perfis de trabalhadores que aparecem no campo”
Mais oportunidades. Para que esse cenário se torne cada vez mais frequente é preciso mais do que vontade. O trabalhador, muita das vezes, está distante dos grandes centros urbanos e a infraestrutura pode comprometer seu aprimoramento. Levar conectividade ao campo tem sido uma das demandas primordiais nos últimos anos, como pontua o secretário-adjunto de Inovação, Desenvolvimento Rural e Irrigação (SDI) do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), Pedro Neto, em entrevista ao nosso portal: “O MAPA é o principal demandante e tem cooperado com o Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (Mctic), detentor da pauta da Conectividade no Campo”.
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Foto: Secretário-adjunto e Inovação, Desenvolvimento Rural e Irrigação (SDI) aponta a iniciativa privada como fundamental para ampliação da conectividade (Foto: reprodução) |
Segundo o secretário, uma das recentes demandas do MAPA, nesta pauta, foi o mapeamento de “toda a área agricultável do País, levando-se em consideração, inclusive, o relevo dessas áreas, de modo a identificar os locais mais apropriados para construção e instalação de torres de transmissão para melhorar a conectividade no campo”. A solicitação foi feita formalmente à Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP) e está em andamento.
“O levantamento visa propiciar acesso à internet aos produtores, preenchendo, assim, a grave lacuna de infraestrutura do Brasil. No entanto, a principal dificuldade enfrentada para construção de tais infraestruturas são as dificuldades financeiras e orçamentárias vivenciadas pelo Estado brasileiro e para enfrentar tais dificuldades, é essencial a participação da iniciativa privada”, reitera Neto.
Quem irá produzir? O número de trabalhadores rurais que se espelham no negócio da família não mudou significativamente – em 2006, 77% dos empregados tinham famílias atuantes no setor, já em 2011, esse número caiu para 73%.A inserção de tecnologias ao fazer diário do trabalho rural pode ser um atrativo para que mais jovens ocupem esse espaço, evitando que essa queda se acentue nos próximos anos.
“O investimento crescente na implantação de novos processos tecnológicos e rotinas mecanizadas nos sistemas produtivos ligados ao agronegócio têm proporcionado benefícios significativos no desempenho e qualidade operacional para os trabalhadores rurais envolvidos nas diversas atividades rurais”, ressalta a equipe do Senar.
O trabalho, que vem deixando de ser braçal, amplia as possibilidades do perfil de trabalhadores: mulheres, jovens, pessoas com nível superior. Afinal, quem será o trabalhador rural no futuro?
Fonte: http://www.feedfood.com.br/en/da-semana/mercado/quem-ira-produzir-nosso-alimento-daqui-a-dez-anos